sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Cursinho versus curso

Hoje é véspera do ENEM e eu estava assistindo um "aulão de véspera" através da internet feito por um grande curso aqui no Rio no Centro de Convenções Sul-América[1]. Eu nunca fiz ENEM, quando entrei na vida acadêmica os vestibulares ainda estavam em semi-extinção, e eu os preferi fazer do que fazer o ENEM, hoje no Rio apenas a UERJ ainda adota o sistema de vestibular[2].

Desde que eu estava no Ginásio (antiga 5ª-8ª Séries, hoje 6º-9º Anos) eu percebia uma clara diferença entre professores de cursinho e os professores de colégio. Essa percepção, para mim, consolidou-se durante a graduação. Professor de cursinho quer que você decore, professor de colégio/faculdade quer que você aprenda. Parece uma pequena diferença, mas isto muda completamente a filosofia do ensino.

Conversando com alunos do Ensino Médio desde que eu mesmo era um Estudante do Ensino Médio, percebo a "fascinação" que o estudante tem com o professor do cursinho, que ensina de uma forma "divertida", usa "macetes" (alguns com um bom gosto questionável)[3], usa "piadas" e que não exige muito do estudante cognitivamente, exigindo apenas uma decoreba. Algumas críticas são extremamente válidas: o ensino curricular deve ser mais interessante para o aluno, mas a própria essência do ensino curricular impede várias práticas usadas pelo professor do cursinho.

Como já dito, pela finalidade do cursinho ser enfiar fórmulas e conceitos na cabeça do estudante, ele deve recorrer a "truques mentais", sendo o mais comum o da associação: associa-se as fórmulas com historinhas/anedotas/músicas para tornar a impressão dela na mente mais fácil. Todavia, no ensino curricular o professor quer que você raciocine e entenda as fórmulas. Eu mesmo, por entender a lógica por detrás das fórmulas, ao esquecer uma fórmula, conseguia "desenvolvê-la" em algumas linhas e daí a usava no cálculo. Por essa diferença é mais fácil (e interessante) o aluno aprender que S=So+V.t é "super sorvete", do que como uma simples conclusão lógica de que a distância percorrida total por um objeto a partir de uma origem, é a distância dele da origem, mais a distância percorrida por ele (como a velocidade de mede em unidades de distância/tempo, se multiplicar essa unidade pelo tempo, tem-se a distância, com o tempo sendo cancelado na multiplicação), ou seja, a distância de qualquer coisa referente a um ponto qualquer é a distância original referente ao ponto, mais a distância percorrida referente ao ponto. Mas para uma prova que irá ocorrer em menos de 24h, "super sorvete" é mais eficiente.

Isso é causado, principalmente, pela nossa mente descontínua, na qual damos tanta importância para uma prova na qual uma pessoa que apenas decorou diversas fórmulas pode tirar uma nota maior do que quem realmente entende a lógica por detrás das questões [4].

Será que esta é a melhor maneira de medir o conhecimento de alunos? Isso é quase unânime que não, mas essa é a forma mais eficiente que temos. Por muito tempo ainda teremos esse problema em conseguir medir realmente o conhecimento de um aluno.

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Notas

[1] Para que mora no Rio, ou para quem já visitou, fica claro o tamanho dessa classe, pois esse é um dos maiores Centros de Convenções da cidade.

[2] É algo óbvio que uma universidade estadual adote o sistema de vestibular, pois esse sistema tende a restringir a entrada de estudantes aos cidadãos do Estado, enquanto o ENEM abre as portas de qualquer universidade para todos os brasileiros, o que faz mais sentido para uma universidade federal.

[3] Uma lista de macetes pode ser consultada em: http://www.vestibular1.com.br/turbinando/tub4.htm

[4] Um ótimo vídeo no qual um Doutor em Biologia pela USP explica a nossa mente descontínua pode ser visto neste link: https://www.youtube.com/watch?v=m_LsMe4XWmA

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